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sexta-feira, 26 de abril de 2013

Pensamento de Patrícia Galvão é debatido neste sábado (27), no Sesc Santos



A jornalista e pesquisadora Márcia Costa conduzirá neste sábado (27), a partir das 17 horas, no Sesc, o debate "Salve Santos e Pagu - sobre cultura e arte: a atualidade do pensamento de Patrícia Galvão", mediado pelo jornalista Marcus Batista. Márcia é autora do livro 'De Pagu a Patrícia – o último ato' (Dobra Editorial/Prefeitura de Santos). 

A atriz Marisa Matos apresentará uma performance sobre a relação de Patrícia Galvão com o teatro a partir do texto Degraus da Escada, publicado por ela em A Tribuna em 1959. O Sesc fica na rua Conselheiro Ribas, 136, Aparecida.

Os últimos anos de vida de Pagu em Santos, sua atuação na área cultural e a atualidade de seu pensamento serão tema de debates durante os meses de abril e maio. Com os debates, Márcia vai procurar mostrar as relações que se pode estabelecer entre a arte, a cultura e o jornalismo cultural dos anos 50 e de hoje. 

No dia 3 de maio (sexta-feira), às 14h, a autora estará no campus da Unifesp em uma palestra organizada pela Associação de ex-alunos da Universidade Aberta à Terceira Idade. O tema será “A efervescência cultural dos anos 50 e a atuação de Patrícia Galvão nos espaços culturais da cidade”. O endereço da Unifesp é rua Silva Jardim, 136, Vila Mathias.

Já no dia 08 de maio (quarta-feira), às 20h, na Vila do Teatro, Márcia debaterá com o público o tema “Patrícia Galvão, a vanguarda e a experimentação teatral”. A Vila está localizada na rua Visconde do Embaré, 6, na Praça dos Andradas, Centro.

E, no dia 17 de maio, às 18h30, ela estará na livraria Porto das Letras, cujo local é avenida Senador Pinheiro Machado, 1024, José Menino. O assunto será “O que ler, segundo Patrícia Galvão - por uma formação crítica”. 

O primeiro debate ocorreu hoje na Aliança Francesa, e teve como tema “Patricia Galvão e a cultura francesa”, com destaque à vanguarda modernista.



quarta-feira, 17 de abril de 2013

Reduzir a maioridade penal é a solução?



Antes é necessário afirmar que a diminuição da maioridade penal fere a Constituição de 1988. Mas a sociedade sempre procura um "bode expiatório" na ilusão de que isso resolve o problema. O que se quer com propostas do tipo é transformar formalmente a vítima em criminosa - cujos direitos estão regulamentados pelo Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) - e ignorar as reais causas da violência, além de aprofundar ainda mais a criminalização dos mais pobres.  

É absurdamente simplista esta proposta. No Brasil, a imensa maioria dos crimes é cometida por adultos. Os adolescentes (em destaque, negros e pobres) são na verdade mais vitimizados do que vitimizadores - bem mais. Ou seja, são assassinados muito mais do que matam (menos de 3% dos adolescentes internados respondem por crimes contra a vida). Estatísticas revelam que 80% dos infratores são apreendidos por roubo ou tráfico de drogas, sendo na maior parte das vezes, com pequenas quantidades de entorpecentes. 

O fato é que os casos em que adolescentes matam de forma atroz, causando clamor público, e que a mídia seleciona para repercutir, correspondem à mínima parte da situação. Temos que lembrar que, caso se concretize, não só os adolescentes que cometerem assassinatos hediondos (a ínfima parte) irão para as prisões comuns - conhecemos muito bem a precariedade do sistema carcerário brasileiro...

Os argumentos contra a impunidade, e de que "os menores de idade já sabem o que fazem", são falaciosos. Quantos criminosos adultos não permanecem impunes por aí? Será mesmo que todos os adolescentes conhecem as possíveis consequências dos seus atos? Por ser um período em que o cérebro ainda está em desenvolvimento, o adolescente não pode ser recuperado? Até mesmo um adulto pode ser reabilitado - nem todos, claro. De qualquer forma, se sabe ou não o que faz, não é a questão principal. Mas é claro que não se pode simplesmente deixar livre um jovem com grande possibilidade de voltar a matar.  

Querer diminuir a maioridade penal é um reducionismo barato e fascista, que evita tocar no verdadeiro problema: a situação social vulnerável das crianças, adolescentes e jovens - especialmente os negros, pardos e/ou das periferias. Há também muito de oportunismo político, hipocrisia, racismo, preconceito e/ou desinformação entre os defensores da medida.   

A redução da idade penal não faria nem cócegas contra a violência, já que não alteraria as condições de injustiça social e discriminação que estão nas raízes da criminalidade. E, então, os que pressionam que adolescentes de 16 anos possam ser presos perceberão isso, e vão mirar em idades cada vez menores: 15, 14, 13, 12 anos...

Charges: Carlos Latuff

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Novo Conselho Municipal da Juventude de Santos toma posse no dia 27




Lá na Praça Mauá, a Prefeitura vai ser tomado por jovens de todos os cantos da Cidade no próximo dia 27, às 17 horas: haverá a cerimônia de posse dos membros do Conselho Municipal da Juventude no Salão Nobre. "É um grande momento tanto para o Poder Público quanto para os jovens, e, por isso, é importante nós irmos em peso à cerimônia. Porque assim nós podemos mostrar à Administração que temos interesse em políticas públicas eficazes e que se cumpra as demandas de nossa geração", afirma o presidente do conselho Carlos André Conceição Alves.

A programação do evento ainda está indefinida, mas prevê-se apresentações artísticas da Região e a presença de secretários municipais e outras personalidades. Será o primeiro encontro oficial do prefeito Paulo Alexandre Barbosa com o conselho, como também a participação dos representantes do conselho por parte do Poder Público. Desde dezembro, foram eleitos os novos representantes ligadas à sociedade civil e ao segmento juvenil para o biênio 2013-2015:

Organização de juventude partidária com atuação local: Anderson (PCdoB/titular), Gilson (PSOL/suplente); organização de jovens artistas: Denner (Via Arte Produções/titular); Marcello (Clube do Choro de Santos/suplente); organização filantrópica de jovens: Kevin (Ordem DeMolay/titular), Roberto (Ordem DeMolay/suplente); organização de juventude religiosa: Nairane (Afroluz/titular), Guilherme (Pastoral da Juventude/suplente); organização cultural de juventude: Lincoln (Curta Santos/titular); organização de juventude de orientação sexual: Luís Felipe (Juventude Litoral/titular); Milva (Centro de Direitos Humanos/suplente) organização de juventude negra: Ivana (Unegro/titular).


Representante para organização do setor empresarial: Leandro (ACS Jovem/titular); centrais sindicais: Carlos André (CBT/titular); classe ou associações de profissionais: Marcelo (Associação Ex-Alunos da Unisantos/titular); ONGs: Carlos Norberto (Cemej/titular), Jam Pawlak (ONH-U); Bruno Alexandre (UJS/suplente); movimentos sociais: Keith Cristina (UBM/titular), Orlando (Prazer, meu nome é Hip-Hop/titular), Maria Lisboa (Nuclim); jovem cidadão: Maíra (titular) e Gabriela (suplente); cidadão: Will (titular) e João (suplente).

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Vídeo: "Levante sua voz"

O post de hoje é o vídeo "Levante sua voz". Ele é de quatro anos atrás, mas ainda muito atual - e não tão cedo perderá sua atualidade. 

Produzido pelo Intervozes Coletivo Brasil de Comunicação Social, com o apoio da Fundação Friedrich Ebert Stiftung, esse curta-documentário retrata a concentração dos meios de comunicação no país. 

O diretor e roteirista Pedro Ekman baseou-se no premiadíssimo "Ilha das Flores" (1989), do cineasta gaúcho Jorge Furtado.  



quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Ódio e intolerância religiosa disfarçados de opinião



Dizem que preferência política, time de futebol e religião são assuntos que não se discutem. Cada um tem o seu. Mas isso é verdade apenas até certo ponto - existem momentos em que não faz sentido o embate de opiniões - pois qualquer assunto, por mais "espinhoso", é passível de debate, com respeito e honestidade intelectual.

Causou enorme repercussão na internet a entrevista (ou debate?) do pastor Silas Malafaia para a jornalista e apresentadora Marília Gabriela, no De Frente com Gabi (SBT), realizada na noite do último domingo (03/02). As opiniões do midiático líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo foram alvo de enxurrada de críticas negativas nas redes sociais - por outro lado, muitas pessoas saíram em sua defesa.

Vários defensores de Malafaia afirmam haver desrespeito à liberdade de expressão e crença religiosa do pastor, ou seja, a alguém que "pensa diferente". Mas o próprio Malafaia é assíduo na prática de incitar o ódio contra as pessoas que não seguem seu receituário de "moral e bons costumes", além de tentar utilizar a ciência para defender suas ideias preconceituosas.  

Como se sabe, ciência e religião historicamente não costumam se dar muito bem. No Ocidente, o conhecimento científico foi construído ao longo dos tempos jogando por terra diversos dogmas da Igreja Católica, que naturalmente não ficava passiva diante dos questionamentos que sofria. Apesar dos esforços de conciliação o embate continua - obviamente, sem a mesma "contundência" da Idade Média ou da Era Clássica.

Ódio e intolerância

Também Estado e religião precisam estar separados. O Brasil é um Estado laico. Isso significa que oficialmente não possui uma religião oficial, devendo ser neutro ou imparcial em relação a assuntos religiosos. É preciso dizer que isso é importante para a democracia? Mas a prática é diferente: são encontrados símbolos religiosos nos espaços ou repartições públicas; no Congresso Nacional, apenas alguns grupos religiosos (católicos e evangélicos) confundem o interesse público com seus interesses particulares. Ou quando, nas eleições de 2010, o debate de propostas foi empobrecido em razão do assédio das igrejas aos candidatos. Então esbarra-se no dilema de que esses parlamentares representam parcela significativa dos eleitores, compartilhando com eles os mesmos valores. Ou seja, opinião contrária é igual à perda de votos.

Outra questão: o loteamento de espaço na TV entre umas poucas denominações religiosas, sendo as mais midiáticas a Igreja Universal do Reino de Deus, a Igreja Mundial do Poder de Deus e a Canção Nova. Além de alugar espaços nas grades de outras emissoras, elas têm adquirido suas próprias redes de televisão. A concentração dos meios de comunicação nas mãos de poucos grupos é nociva à democracia, pois não reflete a diversidade religiosa existente no país. 

Só no Brasil, "terra-sem-lei" no controle do papel educativo e cidadão da TV aberta, que é uma concessão pública, alguém como o Malafaia tem espaço para incitar o ódio e a intolerância, além de  pisar na cidadania. As liberdades religiosa e de opinião não justificam o ataque aos direitos dos outros. 


terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A víbora manda lembranças: uma "aula de jornalismo e de Brasil"



Fiquei muito contente ao tomar conhecimento dela e ansioso para conferir o mais breve possível a grande dica do jornalista Ricardo Kotscho. Em seu Balaio, ele comenta o filme que assistiu na Globo News: "Garrafas ao mar: a víbora manda lembranças", de Geneton Moraes Neto. Segundo Kotscho, "uma obra-prima de documentário, aula imperdível de jornalismo e de Brasil". 

"Em 90 minutos, Geneton resume a vida e a obra de Joel Silveira, 'a víbora', o maior repórter brasileiro de todos os tempos. É o resultado de um trabalho que durou 20 anos de entrevistas", explica Kotscho, acrescentando que se trata de um trabalho paciente e metódico do repórter mais jovem (Geneton) que arranca do mais velho (Joel) "as mais incríveis lembranças sobre os personagens que fizeram a história recente do nosso país".

O repórter Joel Silveira ganhou a alcunha de "a víbora" de Assis Chateaubriand, o Chatô, dono do então maior império de comunicação Brasil, os Diários Associados. Chateaubriand o apelidou assim após ler sua reportagem (Granfinos em São Paulo, de 1943) na revista Diretrizes, de Samuel Wainer, em que fez um retrato ácido da elite paulistana. Tempos depois seria contratado por Chatô.

Prossegue Kotscho: "Da primeira à última cena, músicas, imagens, textos (interpretados por Othon Bastos, Carlos Vereza e Fagner) e depoimentos, tudo na medida certa, no ponto certo, vão nos contando o que aconteceu nos últimos 60 anos no Brasil e no mundo, na visão sempre crítica, irônica, implacável e, ao mesmo tempo, bem humorada, de Joel Silveira."

Acompanhando os últimos anos de vida de Joel Silveira até sua morte, em 2007, Moraes Neto resgatou a memória do repórter sergipano. Em razão do volume de informações, com histórias emendadas umas às outras, Kotscho diz não ter conseguido desgrudar os olhos da tela nem para buscar um copo d'água.

"Ditadura Vargas, Segunda Guerra Mundial, a vida deslumbrada dos ricos paulistas, o golpe de 1964, histórias de papas e de presidentes, de grandes escritores e vítimas anônimas, tudo vai-se sucedendo com a maior naturalidade, como se fosse um papo de boteco sem hora para acabar", conta. 

Eu já li reportagens de Joel, como a dos granfinos de São Paulo dos anos 1940 e as que ele escreveu quando foi correspondente dos Diários Associados no front brasileiro, na Itália, na Segunda Guerra Mundial. 

"Granfinos em São Paulo" foi republicada em A milésima segunda noite da avenida Paulista (Companhia das Letras, 2003), e os textos do front, em O inverno da guerra (Objetiva, 2005). Outra ótima leitura é da coletânea A feijoada que derrubou o governo (Companhia das Letras, 2004). Além do olhar aguçado de repórter, seu texto elegante, irônico e lírico me fascinou. Sem contar a riqueza histórica e variedade de personagens importantes retratadas durante a sua carreira jornalística.

Para Kotscho, "Garrafas ao mar: a víbora manda lembranças" deveria ser adotado como matéria obrigatória nas faculdades de jornalismo. Porém, mesmo não havendo (ainda) essa exigência, certamente, conhecer a carreira da "víbora" do jornalismo brasileiro é um requisito básico para quem deseja merecer ser chamado de repórter. Este filme eu não perco! 


sábado, 2 de fevereiro de 2013

Movimento estudantil "invade" Pernambuco por reformas



Em janeiro, Recife e Olinda foram pontos de encontro de milhares de jovens de todas as regiões do Brasil. Os dois municípios pernambucanos sediaram o 14º Conselho Nacional de Entidades de Base e a 8ª Bienal da União Nacional dos Estudantes (UNE). Já é tradição que estes eventos aconteçam em sequência. O Coneb foi realizado de 18 a 21. E no dia seguinte, já começava a Bienal, que teve seu término no dia 26. 

Alguns membros do Conselho Municipal da Juventude de Santos fizeram parte da delegação da Baixada Santista (e do estado de São Paulo), que viajou três dias de ônibus a Pernambuco a fim de participar destes importantes encontros dos movimentos estudantis. 

A reforma universitária foi o principal tema em pauta no 14ª Coneb, que reuniu cerca de quatro mil representantes de Centros e Diretórios Acadêmicos de todo o País, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em Recife. 

Os estudantes expuseram seus problemas, anseios, opiniões e propostas para a melhoria da qualidade do ensino superior brasileiro. Para tal, foram feitos ciclos de debates e grupos de trabalhos. 

No entanto, talvez, o momento mais importante – e emocionante – foi a abertura, com o lançamento da Comissão da Verdade da UNE e a homenagem ao estudante Honestino Guimarães, cujo desaparecimento é atribuído ao Regime Militar (1964-1985). A comissão vai investigar, apurar e esclarecer casos de morte e tortura de pelo menos 46 dirigentes da entidade (a começar pelo desaparecimento de Honestino).

Entre outras questões, foram debatidas a democratização da mídia, o financiamento público de campanhas eleitorais no Brasil, os desafios do Plano Nacional de Educação (PNE), a luta por assistência estudantil nas universidades brasileiras e a democratização do acesso à universidade - com a presença de especialistas renomados.


Bienal - A 8ª Bienal da UNE começou lotando a praia de Casa Caiada, em Olinda. Mais de 10 mil pessoas na faixa de areia para assistir ao show de Lenine, na noite do dia 22. Elba Ramalho, Silvério Pessoa e Alceu Valença também se apresentaram nas noites seguintes.

Segundo a UNE, é o maior festival de estudantes da América Latina, e este ano contou com uma vasta programação de atividades artísticas e culturais, com destaque ao universo nordestino, sendo o homenageado maior Luiz Gonzaga. 

O clima de festa não fez os estudantes se esquecerem nem por um instante das principais reivindicações da UNE. Eram entoadas "palavras de ordem", sempre lembrando os porquês de tamanha reunião de jovens de todo o País. Nem durante a Culturata, uma mistura de passeata e bloco carnavalesco, que percorreu as ladeiras de Olinda, pondo fim a esta edição da Bienal.

sábado, 12 de janeiro de 2013

A guerrilheira da notícia


por Carlos Norberto de Souza 
- Publicado no Observatório da Imprensa, em 03/07/2012 - 
Na saída do elevador, no 8° piso, vê-se, ao longo do corredor, escuro, a porta entreaberta do apartamento 82. E, ali, postada, está a figura discreta e frágil de Helle Alves, com por volta de 1,5 metro de altura. Quem vislumbra sua imagem, a de uma senhora em seus 85 anos de idade, dificilmente, imagina que se trata também de uma das pioneiras do jornalismo brasileiro. Seu maior feito na carreira foi o de ter noticiado primeiro a morte de Ernesto Guevara de La Serna, o Che, guerrilheiro revolucionário argentino morto em uma emboscada pelo exército boliviano, em 1967. Diversas reportagens abordando a revolução dos costumes, os avanços da medicina na época e os Festivais da Música Popular Brasileira, da TV Record, dos anos 60, também fazem parte de seu acervo.
À porta, ela chama a atenção deste repórter: “É por aqui!” Cumprimentá-la com um aperto de mão pode ser perigoso, se feito de maneira bruta. Portanto, o gesto é delicado. Ela se acomoda no sofá e vai direto ao ponto: “O que você quer de mim?”
Aos 15 anos de idade, começou na imprensa num jornal semanal, o Rádio Olá, cujo dono comandava também a Rádio América. Em 1947, ingressou no setor público como redatora de atas da Assembleia Constituinte, ficando afastada do meio jornalístico por certo tempo. Até que, no fim da década de 1950, foi contratada pelos Diários Associados, do então magnata das Comunicações Assis Chateaubriand. A paixão de Helle sempre foi a reportagem.
Os famigerados vistos
“Sempre trabalhei na editoria de Geral. Cheguei a ser chefe de reportagem e editora de diversas áreas, mas sempre por pouco tempo porque gostava mesmo é de ser repórter de Geral”, conta, acrescentando que o jornalismo da época era muito estimulante, pois o jornalista precisava sair da redação para ir atrás das notícias. “Naquele tempo, não havia satélites ou internet, então o jeito era ir para a rua, pegar a estrada, em busca das informações. A reportagem é a parte viva do jornal!”
Engajada nas campanhas pela emancipação feminina, Helle é uma das precursoras nas redações. Hoje é coisa corriqueira. Mas na época raramente se via uma mulher desempenhando a função. “Nos Diários, só havia uma repórter antiga, boa, a Margarida Izar, mas nossos horários não coincidiam”, lembra. E as poucas corajosas sofriam com o machismo dominante. “Setores como Esporte e Polícia eram verdadeiros ‘clubes do Bolinha’. Ou seja, terreno monopolizado pelo mundo masculino da imprensa. “Mas eu não admitia ser excluída das coberturas de peso, como a guerrilha.”
A respeito do furo de reportagem da morte de Che, ela demonstra modéstia. A atenção da imprensa internacional estava no julgamento do jornalista francês Régis Debray, acusado de integrar a guerrilha na Bolívia. “Eu, o fotógrafo Antonio Moura e o cinegrafista Walter Gianello fomos lá para cobrir o assunto. Deveríamos ir a La Paz buscar vistos. Mas tentamos cortar caminho em Santa Cruz de La Sierra”, relata. Helle conta que, após algumas tentativas em obter os famigerados vistos com os militares, verificou uma intensa movimentação em Valle Grande. O exército boliviano matara quatro guerrilheiros, mas nenhum seria Guevara.
“Devia ter tido mais paciência”
A jornalista, então, foi a La Paz pegar os vistos – toda vez que mudavam de cidade, precisavam de novas autorizações – enquanto seus colegas permaneceram em Santa Cruz para apurar as informações. Helle retornou no dia seguinte e, segundo ela, o clima estava pesado, pois circulava o boato de que Che estava morto. Informação confirmada em Valle Grande com os próprios olhos. A reação dos bolivianos a impressionara. “Uma multidão raivosa invadiu o local onde estava o corpo de Che para destruir o que visse à frente. Mas quando o viram com a fisionomia bonita, sorridente, disseram que parecia com Jesus.” E então se formou uma espécie de romaria, todos a querer ver o corpo de perto.
Por causa da reportagem, Helle foi processada pela ditadura militar, que a proibiu de publicar qualquer coisa sobre Che. Em 1968, o regime engrossou de vez. O Ato Institucional 5 foi decretado. “Tinha um censor na redação com um baita lápis vermelho para marcar com xis o que considerava perigoso. Isso quando não rasgava tudo logo”, recorda. Por causa dessa censura prévia, era preciso colocar a criatividade das pautas à prova. “Fiz reportagens sobre os Festivais da Música Popular Brasileira, os avanços da Biologia e da Medicina (como o bebê de proveta e as pesquisas com clonagem), a emancipação feminina etc.” Mas na época o império de Chateaubriand já estava em decadência, obrigando Helle a deixar o jornalismo diário.
A veterana jornalista diz que, por causa da constante vigilância na redação, havia mais criatividade nas pautas. “Ao contrário de hoje, quando a imprensa é pasteurizada, sem criatividade”, reclama. De uma coisa, Helle arrepende-se: não ter continuado no jornalismo diário. Perdeu o ânimo. Era uma época de repressão da ditadura e os profissionais de imprensa não tinham liberdade para trabalhar. Esse desânimo, segundo ela, afetou muitos colegas. “Devia ter tido mais paciência”, constatou. “Muito jornalista foi se retirando daquele fogo. Tínhamos muito entusiasmo, mas dez anos de regime esfriaram muita gente”, lembra Helle.
“O gravador não tinha funcionado”
Ela critica a burocracia do jornalismo atual. “Os Diários (Associados) era uma redação com todo mundo junto, se trocava muito mais opinião, impressão e ideias.” Após a aposentadoria, morou em Campos do Jordão. Viajou por diversos países. Até mudar-se para Santos em 1992, onde tem se dedicado à defesa dos direitos do idoso em campanhas que culminaram com a aprovação do Estatuto do Idoso, em 2003. Foi presidente do Centro Regional do Idoso. Teve dois filhos, Laedi Rodrigues, 60 anos, doutora em Saúde Pública, e Lael Rodrigues, falecido há mais de 20 anos. Lael era cineasta e autor de livros sobre MPB e deixou, à época, um filho de três meses de idade. Laedi, por sua vez, deu três netos a Helle.
Independente, ela mora sozinha há quatro décadas, desde o casamento da filha. Teve outras paixões, é claro, mas nunca pensou em se casar novamente. Helle preza a própria liberdade, seja na carreira ou na vida pessoal. É de família: sua irmã, a atriz Vida Alves, deu o primeiro beijo da televisão brasileira. Ainda hoje, Helle vive um cotidiano de muitos compromissos, entre os quais, as diversas visitas de estudantes de Jornalismo. Ela conserva ainda o jeitinho mineiro de contar histórias, a voz mansa, mas firme. Em uma dessas visitas, a futura jornalista entrevistou-a durante três horas ininterruptas. “No dia seguinte, voltou desesperada pedindo para fazer a entrevista tudo de novo, pois o gravador não tinha funcionado”, conta. Neste momento, Helle, que já estava mais descontraída, deixa escapar uma gargalhada.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

sábado, 5 de janeiro de 2013

Os compromissos do novo prefeito com a juventude



A edição de A Tribuna deste sábado (05/01) trouxe, na página A-4 (Local), uma matéria intitulada "Juventude espera a coordenadoria". O texto assinado pelo repórter Lincoln Spada informa que, com a mudança de governo em Santos, ainda não foi definido um espaço ou órgão que "se identifique com políticas voltadas a essa parcela da população", como disse o presidente do Conselho Municipal da Juventude, Carlos André Conceição Alves.

Os membros do Conselho, entre outras pessoas, esperam há anos a criação de um órgão cuja função seja articular políticas públicas para jovens. Mais especificamente, uma coordenadoria com orçamento próprio. Essa reivindicação consta no Pacto pela Juventude 2012, assinado pelo então candidato à prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), juntamento aos demais prefeituráveis, no dia 26 de setembro de 2012, na ETEC Aristóteles Ferreira.

Como a própria matéria informa, no governo anterior, havia uma assessoria de políticas para juventude ligada ao Gabinete do ex-prefeito João Paulo Papa. E, até o momento, não há definição. Sabe-se apenas que a Secretaria Municipal de Comunicação e Resultados deve informar, nos próximos dias, qual é a previsão de instalação de um órgão de políticas públicas para a juventude.

Alves lembrou que Guarujá é o único município da Região que possui uma Coordenadoria da Juventude. E que em algumas cidades e até no Governo Estadual, as políticas para jovens estão incluídas na Secretaria de Juventude, Esporte e Lazer. Mas a juventude - ele considera - não deveria ser ligada a uma pasta específica, para haver a possibilidade de realizar ações e projetos com as demais secretarias. E mais: para Alves, só a implementação não basta. "É interessante que tenha um fundo para enviar recursos a entidades juvenis, para financiarem seus projetos".

O repórter ouviu também o ex-assessor de políticas para juventude, Wellington Araújo. Ele citou como avanços do seu trabalho a aproximação com empresas, call centers, cursos de capacitação para o mercado de trabalho e o diálogo com secretarias municipais. Porém, é ressaltado que uma coordenadoria teria  possibilidades mais amplas.


Algumas considerações

A publicação desta matéria é em si um fato digno de atenção, porque o espaço dado aos movimentos dos jovens em favor dos seus anseios e necessidades é reduzido nos veículos de comunicação. Mas é importante que se revele a completa dimensão das lutas das organizações juvenis. Afinal, a juventude é uma parcela significativa da sociedade, com enorme potencial de mobilização social, graças as novas formas de participação e manifestação. Em Santos, os jovens (entre 15 a 29 anos) são 21% da população.

O Pacto pela Juventude, assinado por Paulo Alexandre Barbosa, é um conjunto de propostas das organizações da sociedade civil, que compõem o Conselho Nacional de Juventude. A ideia é fazer com que os governos federal, estaduais e municipais se comprometam com as políticas públicas de juventude. Portanto, ao subescrever o documento, o novo prefeito assumiu publicamente o compromisso com a juventude. Principalmente, em executar o que está no Plano Municipal da Juventude, aprovado em 2011.

O ex-assessor de políticas para juventude lembrou muito bem que, além de colocar em prática o Plano, os desafios da nova gestão são "se sensibilizar, principalmente, quanto o uso desenfreado de álcool e outras drogas, ao mercado de trabalho para os jovens e à reestruturação dos centros da juventude". 

Nesse sentido, a criação de uma coordenadoria seria um avanço e "pontapé inicial" importante para se começar a efetivar o comprometimento do novo governo, conforme prometido antes da eleição.





     

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O que esperar de 2013?

Estamos aqui, novamente, começando mais um ciclo: um ano "novinho em folha". Mas, infelizmente, as nossas limitações e as mazelas da Baixada Santista, do Brasil e do Mundo não desapareceram magicamente após a passagem de 31 de dezembro para 1º de janeiro, apesar das simpatias e promessas de fim de ano.

Para esclarecimento: não sou contra os rituais que as pessoas fazem esperando um bom novo ano - vamos combinar: alguns são um tanto ridículos e irritantes, como entoar a canção de sempre "Adeus, ano velho! Feliz ano novo! Que tudo se realize..." Só acho que esse ar tolerante e benevolente, que muita gente transparece no fim de ano, não resiste à primeira semana do mês de janeiro. 

Às vezes, nem é preciso aguardar demais, veja o rapaz assassinado pelo dono de uma churrascaria, na noite de 31 de dezembro, no Guarujá, após reclamar de diferença de sete reais na conta. E há muitas promessas logo esquecidas, algumas, porque são irrealistas e outras, por exigirem mudanças de comportamentos e atitudes (coisa complicada!).

No mundo, acompanhamos a crise na Europa que destroçou as economias da Grécia e Espanha, os mais países mais afetados até agora. Eles entraram em recessão (é quando a economia encolhe) em consequência às medidas de austeridade, que implicam nos drásticos cortes dos gastos públicos. Elas são impostas como requisito para a obtenção de empréstimos. No caso, concedidos e aprovados pela União Europeia e o Fundo Monetário Internacional. Mas que resultam em enormes dificuldades ao cidadão comum. 

No Brasil, apesar dos inúmeros avanços sociais, principalmente, a maior distribuição de renda. Milhões e milhões de pessoas protagonizaram uma mobilidade social jamais vista antes. Vocês ouviram muito falar da nova classe C. Mas vivemos em um país cheio de graves problemas e que necessita de muitas "reformas". Educação, Saúde e a Segurança ainda deixam a desejar. A verba destinada ao Ministério da Cultura é ridícula: salvo engano, pouco mais de 1% do Produto Interno Bruto (PIB). Enfim...

E na Baixada Santista, algumas cidades sofreram "turbulências" - principalmente, São Vicente. O fim da gestão do engenheiro Tercio Garcia (PSB), em SV, foi marcado por lixo nas ruas, greve geral dos funcionários públicos e problemas financeiros. O prefeito empossado Luis Claudio Bili (PP) terá de organizar a bagunça.

No caso de Santos, a transição de governo foi tranquila, já que o PSDB fez parte do governo de João Paulo Papa (PMDB). E é o PMDB que participa agora da gestão de Paulo Alexandre Barbosa, que recebe a cidade com um dos maiores orçamentos do País. São quase 2 bilhões de reais previstos para 2013. De acordo com o IBGE, Santos tem o 17º maior PIB do Brasil. 

Mas essas riquezas não chegam a todos os cidadãos santistas. Há bolsões de pobreza que persistem apesar do desenvolvimento da cidade. Talvez por motivo de insuficiente atenção à parcela mais pobre da população. Se Paulo Alexandre cumprir o que tem prometido estará de bom tamanho: entre outras coisas, atuar em benefício das classes menos favorecidas, além de conduzir um governo que realmente escute os anseios do santista. As condições são propícias. Só resta aguardar e ver como a promessa de renovação passará por seu primeiro ano de governo. 

Aliás, feliz ano novo!