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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A víbora manda lembranças: uma "aula de jornalismo e de Brasil"



Fiquei muito contente ao tomar conhecimento dela e ansioso para conferir o mais breve possível a grande dica do jornalista Ricardo Kotscho. Em seu Balaio, ele comenta o filme que assistiu na Globo News: "Garrafas ao mar: a víbora manda lembranças", de Geneton Moraes Neto. Segundo Kotscho, "uma obra-prima de documentário, aula imperdível de jornalismo e de Brasil". 

"Em 90 minutos, Geneton resume a vida e a obra de Joel Silveira, 'a víbora', o maior repórter brasileiro de todos os tempos. É o resultado de um trabalho que durou 20 anos de entrevistas", explica Kotscho, acrescentando que se trata de um trabalho paciente e metódico do repórter mais jovem (Geneton) que arranca do mais velho (Joel) "as mais incríveis lembranças sobre os personagens que fizeram a história recente do nosso país".

O repórter Joel Silveira ganhou a alcunha de "a víbora" de Assis Chateaubriand, o Chatô, dono do então maior império de comunicação Brasil, os Diários Associados. Chateaubriand o apelidou assim após ler sua reportagem (Granfinos em São Paulo, de 1943) na revista Diretrizes, de Samuel Wainer, em que fez um retrato ácido da elite paulistana. Tempos depois seria contratado por Chatô.

Prossegue Kotscho: "Da primeira à última cena, músicas, imagens, textos (interpretados por Othon Bastos, Carlos Vereza e Fagner) e depoimentos, tudo na medida certa, no ponto certo, vão nos contando o que aconteceu nos últimos 60 anos no Brasil e no mundo, na visão sempre crítica, irônica, implacável e, ao mesmo tempo, bem humorada, de Joel Silveira."

Acompanhando os últimos anos de vida de Joel Silveira até sua morte, em 2007, Moraes Neto resgatou a memória do repórter sergipano. Em razão do volume de informações, com histórias emendadas umas às outras, Kotscho diz não ter conseguido desgrudar os olhos da tela nem para buscar um copo d'água.

"Ditadura Vargas, Segunda Guerra Mundial, a vida deslumbrada dos ricos paulistas, o golpe de 1964, histórias de papas e de presidentes, de grandes escritores e vítimas anônimas, tudo vai-se sucedendo com a maior naturalidade, como se fosse um papo de boteco sem hora para acabar", conta. 

Eu já li reportagens de Joel, como a dos granfinos de São Paulo dos anos 1940 e as que ele escreveu quando foi correspondente dos Diários Associados no front brasileiro, na Itália, na Segunda Guerra Mundial. 

"Granfinos em São Paulo" foi republicada em A milésima segunda noite da avenida Paulista (Companhia das Letras, 2003), e os textos do front, em O inverno da guerra (Objetiva, 2005). Outra ótima leitura é da coletânea A feijoada que derrubou o governo (Companhia das Letras, 2004). Além do olhar aguçado de repórter, seu texto elegante, irônico e lírico me fascinou. Sem contar a riqueza histórica e variedade de personagens importantes retratadas durante a sua carreira jornalística.

Para Kotscho, "Garrafas ao mar: a víbora manda lembranças" deveria ser adotado como matéria obrigatória nas faculdades de jornalismo. Porém, mesmo não havendo (ainda) essa exigência, certamente, conhecer a carreira da "víbora" do jornalismo brasileiro é um requisito básico para quem deseja merecer ser chamado de repórter. Este filme eu não perco! 


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