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sábado, 12 de janeiro de 2013

A guerrilheira da notícia


por Carlos Norberto de Souza 
- Publicado no Observatório da Imprensa, em 03/07/2012 - 
Na saída do elevador, no 8° piso, vê-se, ao longo do corredor, escuro, a porta entreaberta do apartamento 82. E, ali, postada, está a figura discreta e frágil de Helle Alves, com por volta de 1,5 metro de altura. Quem vislumbra sua imagem, a de uma senhora em seus 85 anos de idade, dificilmente, imagina que se trata também de uma das pioneiras do jornalismo brasileiro. Seu maior feito na carreira foi o de ter noticiado primeiro a morte de Ernesto Guevara de La Serna, o Che, guerrilheiro revolucionário argentino morto em uma emboscada pelo exército boliviano, em 1967. Diversas reportagens abordando a revolução dos costumes, os avanços da medicina na época e os Festivais da Música Popular Brasileira, da TV Record, dos anos 60, também fazem parte de seu acervo.
À porta, ela chama a atenção deste repórter: “É por aqui!” Cumprimentá-la com um aperto de mão pode ser perigoso, se feito de maneira bruta. Portanto, o gesto é delicado. Ela se acomoda no sofá e vai direto ao ponto: “O que você quer de mim?”
Aos 15 anos de idade, começou na imprensa num jornal semanal, o Rádio Olá, cujo dono comandava também a Rádio América. Em 1947, ingressou no setor público como redatora de atas da Assembleia Constituinte, ficando afastada do meio jornalístico por certo tempo. Até que, no fim da década de 1950, foi contratada pelos Diários Associados, do então magnata das Comunicações Assis Chateaubriand. A paixão de Helle sempre foi a reportagem.
Os famigerados vistos
“Sempre trabalhei na editoria de Geral. Cheguei a ser chefe de reportagem e editora de diversas áreas, mas sempre por pouco tempo porque gostava mesmo é de ser repórter de Geral”, conta, acrescentando que o jornalismo da época era muito estimulante, pois o jornalista precisava sair da redação para ir atrás das notícias. “Naquele tempo, não havia satélites ou internet, então o jeito era ir para a rua, pegar a estrada, em busca das informações. A reportagem é a parte viva do jornal!”
Engajada nas campanhas pela emancipação feminina, Helle é uma das precursoras nas redações. Hoje é coisa corriqueira. Mas na época raramente se via uma mulher desempenhando a função. “Nos Diários, só havia uma repórter antiga, boa, a Margarida Izar, mas nossos horários não coincidiam”, lembra. E as poucas corajosas sofriam com o machismo dominante. “Setores como Esporte e Polícia eram verdadeiros ‘clubes do Bolinha’. Ou seja, terreno monopolizado pelo mundo masculino da imprensa. “Mas eu não admitia ser excluída das coberturas de peso, como a guerrilha.”
A respeito do furo de reportagem da morte de Che, ela demonstra modéstia. A atenção da imprensa internacional estava no julgamento do jornalista francês Régis Debray, acusado de integrar a guerrilha na Bolívia. “Eu, o fotógrafo Antonio Moura e o cinegrafista Walter Gianello fomos lá para cobrir o assunto. Deveríamos ir a La Paz buscar vistos. Mas tentamos cortar caminho em Santa Cruz de La Sierra”, relata. Helle conta que, após algumas tentativas em obter os famigerados vistos com os militares, verificou uma intensa movimentação em Valle Grande. O exército boliviano matara quatro guerrilheiros, mas nenhum seria Guevara.
“Devia ter tido mais paciência”
A jornalista, então, foi a La Paz pegar os vistos – toda vez que mudavam de cidade, precisavam de novas autorizações – enquanto seus colegas permaneceram em Santa Cruz para apurar as informações. Helle retornou no dia seguinte e, segundo ela, o clima estava pesado, pois circulava o boato de que Che estava morto. Informação confirmada em Valle Grande com os próprios olhos. A reação dos bolivianos a impressionara. “Uma multidão raivosa invadiu o local onde estava o corpo de Che para destruir o que visse à frente. Mas quando o viram com a fisionomia bonita, sorridente, disseram que parecia com Jesus.” E então se formou uma espécie de romaria, todos a querer ver o corpo de perto.
Por causa da reportagem, Helle foi processada pela ditadura militar, que a proibiu de publicar qualquer coisa sobre Che. Em 1968, o regime engrossou de vez. O Ato Institucional 5 foi decretado. “Tinha um censor na redação com um baita lápis vermelho para marcar com xis o que considerava perigoso. Isso quando não rasgava tudo logo”, recorda. Por causa dessa censura prévia, era preciso colocar a criatividade das pautas à prova. “Fiz reportagens sobre os Festivais da Música Popular Brasileira, os avanços da Biologia e da Medicina (como o bebê de proveta e as pesquisas com clonagem), a emancipação feminina etc.” Mas na época o império de Chateaubriand já estava em decadência, obrigando Helle a deixar o jornalismo diário.
A veterana jornalista diz que, por causa da constante vigilância na redação, havia mais criatividade nas pautas. “Ao contrário de hoje, quando a imprensa é pasteurizada, sem criatividade”, reclama. De uma coisa, Helle arrepende-se: não ter continuado no jornalismo diário. Perdeu o ânimo. Era uma época de repressão da ditadura e os profissionais de imprensa não tinham liberdade para trabalhar. Esse desânimo, segundo ela, afetou muitos colegas. “Devia ter tido mais paciência”, constatou. “Muito jornalista foi se retirando daquele fogo. Tínhamos muito entusiasmo, mas dez anos de regime esfriaram muita gente”, lembra Helle.
“O gravador não tinha funcionado”
Ela critica a burocracia do jornalismo atual. “Os Diários (Associados) era uma redação com todo mundo junto, se trocava muito mais opinião, impressão e ideias.” Após a aposentadoria, morou em Campos do Jordão. Viajou por diversos países. Até mudar-se para Santos em 1992, onde tem se dedicado à defesa dos direitos do idoso em campanhas que culminaram com a aprovação do Estatuto do Idoso, em 2003. Foi presidente do Centro Regional do Idoso. Teve dois filhos, Laedi Rodrigues, 60 anos, doutora em Saúde Pública, e Lael Rodrigues, falecido há mais de 20 anos. Lael era cineasta e autor de livros sobre MPB e deixou, à época, um filho de três meses de idade. Laedi, por sua vez, deu três netos a Helle.
Independente, ela mora sozinha há quatro décadas, desde o casamento da filha. Teve outras paixões, é claro, mas nunca pensou em se casar novamente. Helle preza a própria liberdade, seja na carreira ou na vida pessoal. É de família: sua irmã, a atriz Vida Alves, deu o primeiro beijo da televisão brasileira. Ainda hoje, Helle vive um cotidiano de muitos compromissos, entre os quais, as diversas visitas de estudantes de Jornalismo. Ela conserva ainda o jeitinho mineiro de contar histórias, a voz mansa, mas firme. Em uma dessas visitas, a futura jornalista entrevistou-a durante três horas ininterruptas. “No dia seguinte, voltou desesperada pedindo para fazer a entrevista tudo de novo, pois o gravador não tinha funcionado”, conta. Neste momento, Helle, que já estava mais descontraída, deixa escapar uma gargalhada.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

sábado, 5 de janeiro de 2013

Os compromissos do novo prefeito com a juventude



A edição de A Tribuna deste sábado (05/01) trouxe, na página A-4 (Local), uma matéria intitulada "Juventude espera a coordenadoria". O texto assinado pelo repórter Lincoln Spada informa que, com a mudança de governo em Santos, ainda não foi definido um espaço ou órgão que "se identifique com políticas voltadas a essa parcela da população", como disse o presidente do Conselho Municipal da Juventude, Carlos André Conceição Alves.

Os membros do Conselho, entre outras pessoas, esperam há anos a criação de um órgão cuja função seja articular políticas públicas para jovens. Mais especificamente, uma coordenadoria com orçamento próprio. Essa reivindicação consta no Pacto pela Juventude 2012, assinado pelo então candidato à prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), juntamento aos demais prefeituráveis, no dia 26 de setembro de 2012, na ETEC Aristóteles Ferreira.

Como a própria matéria informa, no governo anterior, havia uma assessoria de políticas para juventude ligada ao Gabinete do ex-prefeito João Paulo Papa. E, até o momento, não há definição. Sabe-se apenas que a Secretaria Municipal de Comunicação e Resultados deve informar, nos próximos dias, qual é a previsão de instalação de um órgão de políticas públicas para a juventude.

Alves lembrou que Guarujá é o único município da Região que possui uma Coordenadoria da Juventude. E que em algumas cidades e até no Governo Estadual, as políticas para jovens estão incluídas na Secretaria de Juventude, Esporte e Lazer. Mas a juventude - ele considera - não deveria ser ligada a uma pasta específica, para haver a possibilidade de realizar ações e projetos com as demais secretarias. E mais: para Alves, só a implementação não basta. "É interessante que tenha um fundo para enviar recursos a entidades juvenis, para financiarem seus projetos".

O repórter ouviu também o ex-assessor de políticas para juventude, Wellington Araújo. Ele citou como avanços do seu trabalho a aproximação com empresas, call centers, cursos de capacitação para o mercado de trabalho e o diálogo com secretarias municipais. Porém, é ressaltado que uma coordenadoria teria  possibilidades mais amplas.


Algumas considerações

A publicação desta matéria é em si um fato digno de atenção, porque o espaço dado aos movimentos dos jovens em favor dos seus anseios e necessidades é reduzido nos veículos de comunicação. Mas é importante que se revele a completa dimensão das lutas das organizações juvenis. Afinal, a juventude é uma parcela significativa da sociedade, com enorme potencial de mobilização social, graças as novas formas de participação e manifestação. Em Santos, os jovens (entre 15 a 29 anos) são 21% da população.

O Pacto pela Juventude, assinado por Paulo Alexandre Barbosa, é um conjunto de propostas das organizações da sociedade civil, que compõem o Conselho Nacional de Juventude. A ideia é fazer com que os governos federal, estaduais e municipais se comprometam com as políticas públicas de juventude. Portanto, ao subescrever o documento, o novo prefeito assumiu publicamente o compromisso com a juventude. Principalmente, em executar o que está no Plano Municipal da Juventude, aprovado em 2011.

O ex-assessor de políticas para juventude lembrou muito bem que, além de colocar em prática o Plano, os desafios da nova gestão são "se sensibilizar, principalmente, quanto o uso desenfreado de álcool e outras drogas, ao mercado de trabalho para os jovens e à reestruturação dos centros da juventude". 

Nesse sentido, a criação de uma coordenadoria seria um avanço e "pontapé inicial" importante para se começar a efetivar o comprometimento do novo governo, conforme prometido antes da eleição.





     

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O que esperar de 2013?

Estamos aqui, novamente, começando mais um ciclo: um ano "novinho em folha". Mas, infelizmente, as nossas limitações e as mazelas da Baixada Santista, do Brasil e do Mundo não desapareceram magicamente após a passagem de 31 de dezembro para 1º de janeiro, apesar das simpatias e promessas de fim de ano.

Para esclarecimento: não sou contra os rituais que as pessoas fazem esperando um bom novo ano - vamos combinar: alguns são um tanto ridículos e irritantes, como entoar a canção de sempre "Adeus, ano velho! Feliz ano novo! Que tudo se realize..." Só acho que esse ar tolerante e benevolente, que muita gente transparece no fim de ano, não resiste à primeira semana do mês de janeiro. 

Às vezes, nem é preciso aguardar demais, veja o rapaz assassinado pelo dono de uma churrascaria, na noite de 31 de dezembro, no Guarujá, após reclamar de diferença de sete reais na conta. E há muitas promessas logo esquecidas, algumas, porque são irrealistas e outras, por exigirem mudanças de comportamentos e atitudes (coisa complicada!).

No mundo, acompanhamos a crise na Europa que destroçou as economias da Grécia e Espanha, os mais países mais afetados até agora. Eles entraram em recessão (é quando a economia encolhe) em consequência às medidas de austeridade, que implicam nos drásticos cortes dos gastos públicos. Elas são impostas como requisito para a obtenção de empréstimos. No caso, concedidos e aprovados pela União Europeia e o Fundo Monetário Internacional. Mas que resultam em enormes dificuldades ao cidadão comum. 

No Brasil, apesar dos inúmeros avanços sociais, principalmente, a maior distribuição de renda. Milhões e milhões de pessoas protagonizaram uma mobilidade social jamais vista antes. Vocês ouviram muito falar da nova classe C. Mas vivemos em um país cheio de graves problemas e que necessita de muitas "reformas". Educação, Saúde e a Segurança ainda deixam a desejar. A verba destinada ao Ministério da Cultura é ridícula: salvo engano, pouco mais de 1% do Produto Interno Bruto (PIB). Enfim...

E na Baixada Santista, algumas cidades sofreram "turbulências" - principalmente, São Vicente. O fim da gestão do engenheiro Tercio Garcia (PSB), em SV, foi marcado por lixo nas ruas, greve geral dos funcionários públicos e problemas financeiros. O prefeito empossado Luis Claudio Bili (PP) terá de organizar a bagunça.

No caso de Santos, a transição de governo foi tranquila, já que o PSDB fez parte do governo de João Paulo Papa (PMDB). E é o PMDB que participa agora da gestão de Paulo Alexandre Barbosa, que recebe a cidade com um dos maiores orçamentos do País. São quase 2 bilhões de reais previstos para 2013. De acordo com o IBGE, Santos tem o 17º maior PIB do Brasil. 

Mas essas riquezas não chegam a todos os cidadãos santistas. Há bolsões de pobreza que persistem apesar do desenvolvimento da cidade. Talvez por motivo de insuficiente atenção à parcela mais pobre da população. Se Paulo Alexandre cumprir o que tem prometido estará de bom tamanho: entre outras coisas, atuar em benefício das classes menos favorecidas, além de conduzir um governo que realmente escute os anseios do santista. As condições são propícias. Só resta aguardar e ver como a promessa de renovação passará por seu primeiro ano de governo. 

Aliás, feliz ano novo!